Eu, particularmente, já desisti de ir a Bienal para ver tudo de uma só vez. Prefiro as doses homeopáticas - vou ao menos duas vezes - para aproveitar tudo que eu quero, pelo menos quando o evento é gratuito. Em cada visita vejo apenas a metade das obras, ou 2 dos 4 andares, com a atenção que eu acho que merecem - parando e lendo tudo que eu gosto, do começo ao fim. Quando eu canso vou-me embora para voltar outra vez e terminar, caso haja o interesse. Assim consigo me divertir ao invés de me obrigar a ver tudo de uma só vez, o que certamente transformaria a visita numa experiência autoflagelante. Todo mundo sabe chegar no Ibirapuera, ele fica numa região bem central e de fácil acesso. Por isso não é nenhum absurdo o que estou falando.
Do que eu vi nessa primeira visita vou destacar algumas peças que me chamaram atenção, e que por si só já valeriam uma visita ao pavilhão. Lembremos sempre que embora pouco conhecidos do grande público, alguns dos expositores são artistas de canxa, de muita estrada, e as obras apresentadas não são exatamente novidade, e sim instalações, peças ou performances consagradas. O que de forma nenhuma tira o mérito ou a justificativa de sua presença, muito pelo contrário, ressaltam o bom trabalho da curadoria, principalmente quando associados ao tema proposto. Vale a pena conferir, e não é só porque é de graça!
Alberto Casari na produção da obra "Esta indescritível sensação marinha" |
Jiří em performance nas ruas |
Outro artista que fiquei muito feliz em ver na Bienal foi o tcheco Jiří Kovanda, que desde a década de 70 vem produzindo um exame sobre a vida cotidiana e sua normatização. Sua obra trata das relações interpessoais - é efêmera, humorada e pode ser tão sutil que passa despercebida pelo transeunte. Na minha opinião as suas experiências mais interesantes, apresentadas na Bienal deste ano, foram: Numa escada rolante o artista ficou parado em um degrau de frente para as pessoas atras dele, encarando-as olhos nos olhos; Ao transitar pela rua Kovanda esbarrava propositalmente nas pessoas; Em um ambiente fechado e com grande circulação de pessoas Jiří atravessou a sala se esgueirando pelas paredes; Recolhia o lixo das ruas, como bitucas de cigarro, com as próprias mãos e depois jogar tudo no chão novamente.
Vá a Bienal e veja as peças, depois volte aqui e deixe seu comentário!
Colagem de Ilene Segalove exposta na 30a Bienal |
Uma novidade para mim foi conhecer a artista norte-americana Ilene Segalove. Gostei particularmente do seu humor seco, da ironia em suas obras e é claro, da crítica social. A artista produz colagens e fotomontagens, questionando o potencial das
artes para mudança social e seu papel como entretenimento sofisticado.
Nos últimos anos, produziu trabalhos que destacam histórias de vida das
mulheres.
O Taiwanês Tehching Hsieh bate ponto em performance |
E por fim, para não me extender muito, vou citar apenas mais um artista de destaque, o Taiwanês radicado em Nova Iorque, Tehching Hsieh. Suas peças intituladas One Year Performance, produzidas a partir do final da década de 70/começo de 80, dão o que falar. Na primeira delas o artista permaneceu trancado em uma cela dentro do seu estúdio por um ano. Em outras experiências ficou um ano amarrado a uma mulher, sem poder tocá-la; um ano sem poder acessar ambientes cobertos e assim por diante. Na imagem você vê o artista na performance em que durante um ano batia ponto, com foto de hora em hora.
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