18 de junho de 2012

De onde vem a inspiração?

Esse é um tema engraçado, que ouço muita gente discutir (se referindo a grandes artistas, autores de obras diferenciadas ou pessoas com o pensamento fora da curva). A idéia que boa parte da nossa sociedade carrega e difunde é que determinada pessoa foi "abençoada" com o dom da criatividade. É como se tudo que ela estudou, viveu, praticou, trabalhou, observou e assimilou ficassem em segundo plano, incumbindo alguma entidade divina de todo o seu sucesso. Peraí né? Eu não caio nessa!!!

Nesse contexto, sempre tem um personagem (sim, porque a nossa sociedade é uma grande peça de teatro) que lança alguma pergunta mais ou menos assim:
- "Porra, mas e o Mozart? Ele, tinha o dom! O cara compunha aos 5 anos de idade!"
ou mesmo:
- "Cara, o Picasso era gênio, isso é indiscutível!"

Então vamos aos fatos

- A familia do pai de Mozart era composta por muitos cantadores e artistas, enquanto a família da mãe era burguesa de classe média. O próprio pai do jovem "prodígio" era um músico experiente, e famoso violinista (tá acompanhando?). Notadamente desde pelo menos os 4 anos de idade, Mozart era submetido a uma intensa rotina de estudos e árduo trabalho em frente aos teclados. A dedicação à música, tão cobrada pelo pai, seria uma marca registrada para o resto da vida do compositor.


- O caso do Picasso é um pouquinho mais dificil de entender, mas vai por essa linha. O pai era desenhista e pintor (pronto, já começou!) e, apesar do pouco talento, certamente influenciou muito na orientação do filho, já que muitas vezes pedia para que o pequeno Pablo finalizasse seus quadros. Na família da mãe também havia pelo menos dois pintores. O pai ainda era professor de desenho e conservador do museu da cidade onde moravam (Málaga).

É evidente que não se pode resumir a trajetória de grandes artistas como os citados acima a estas experiências pontuais. Sem dúvida o contexto social, político e econômico em que viveram, as experiências dentro e fora de casa, a dedicação e em muitos casos a paixão pelo que faziam, também foram importantes na construção dos "gênios". Sem levar estes fatores em consideração, parece que sempre buscamos uma explicação sobrenatural para as questões que não sabemos explicar. Parece que Deus, ou uma figura religiosa equivalente, ganha força mesmo entre os ateus quando se trata de nomes como Mozart ou Picasso. Não acredito que seja bem por aí, prefiro entender o ambiente em que estavam inseridos e o modo como foram criados; o ponto fora da curva realmente existe, mas seu mérito está mais próximo daquele que o conquistou do que das forças sobrenaturais.

A Guernica é uma das obras mais famosas do pintor Espanhol. Inspirada na guerra é um exemplo do engajamento social e político de um grande artista

E o que isso tem a ver com um blog de marionetes? Não sei, mas que o exemplo desses caras serve para muitos artistas e artesões, isso serve! Sempre busco referências para meus trabalhos, e elas não podiam ser outras senão aqueles que estiveram na vanguarda, artistas que contestaram o establishment, que evocaram o novo, que quebraram paradigmas a muito incrsutrados nas sociedades em que viviam. É preciso estudar muito sim, conhecer a sua própria história, a politica e a sociedade em que você está inserido, bem como as transformações que outros artistas foram capazes de realizar e como fizeram, o ambiente que os modelou e que eles modelaram, e que você pode vir a fazê-lo um dia.

Em termos mais genéricos, é possível afirmar que a arte está intimamente ligada as transformações sociais e políticas dos últimos séculos. Nesse sentido, ela ganhou um grande inimigo: o conceito do belo. Mas isso já é uma outra história......



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário